(Foto: Reuters) |
As manifestações populares que tomaram de assalto as ruas do país deixaram a imprensa e os políticos de queixo caído. Cada qual ao seu modo, todos tentam interpretar os acontecimentos à luz de velhos chavões. Mas o fato é que se trata de algo novo e somente com o passar do tempo será possível analisar o fenômeno com a devida precisão.
Militantes de esquerda suspeitam da direita, que estaria preparando um golpe para voltar ao poder. No entanto, os “cumpanheiros” se esquecem que conservadores como Collor, Sarney, Calheiros e Maluf são aliados estratégicos do governo petista. Além do mais, nunca antes na história deste país os banqueiros, pastores e latifundiários lucraram tanto, pagando quase nada de imposto de renda.
Já os políticos de direita desconfiam da esquerda, que poderia tumultuar o processo político e com isso criar condições para que Lula volte ao poder como salvador da pátria, seguindo o exemplo de Hugo Chávez. Se fosse verdade, o homem que presidiu o Brasil por dois mandatos e elegeu um “poste” para a sua vaga não estaria tão sumido da mídia.
A união faz a força
A imprensa, por sua vez, convoca historiadores, sociólogos e cientistas políticos para analisarem o caso e apontar um desfecho feliz. Se num primeiro momento a cobertura parecia favorável às manifestações, a partir de certo ponto as imagens de vandalismo passaram a ser cansativamente exibidas na TV e estampadas nas primeiras páginas dos jornais – talvez numa tentativa de desacreditar o caráter pacifista do movimento.
Muita gente chegou a dizer que o Brasil acordou para a realidade e que o povo perdeu de vez a confiança nos políticos. Entretanto, o fato é que há muito tempo os brasileiros vinham se queixando separadamente da falta de respeito da classe política, quase toda ela envolvida em escândalos e maracutaias. O povo apenas resolveu gritar em coro, acreditando que a união faz a força.
No meio de tantos questionamentos, uma coisa ficou clara nos últimos dias: além de corrupta, a classe política brasileira é profundamente alienada. Cercados de mordomias custeadas pelo dinheiro público, aqueles que se dizem nossos representes habitam um universo paralelo, distantes da dura realidade vivenciada diariamente por seus eleitores. Pegos de surpresa pelas manifestações, eles deixam de lado as diferenças partidárias para ganhar tempo em defesa da própria classe.
Sem filtro ideológico
Assim como a imprensa, governistas e opositores demoraram a perceber que, graças aos recursos de comunicação oferecidos pela internet, as manifestações incorporam uma nova maneira de pensar e agir politicamente. O mesmo havia ocorrido em países árabes e europeus, nos quais o povo passou a se mobilizar sem a necessidade de lideranças tradicionais ou de agremiações políticas formalmente estabelecidas.
Aliás, foi essa mesma ignorância diante dos novos meios de comunicação que ajudou a fomentar a onda de falências de empresas jornalísticas em vários países, inclusive no Brasil. Hoje, a informação se processa de forma direta, dispensando o intermediário que muitas vezes funciona como filtro ideológico. Disso resultou a ideia de democracia horizontal, que remonta à Grécia antiga.
Mais que exigir os direitos do cidadão em setores prioritários como saúde, educação, segurança e mobilidade urbana, o grito das ruas reivindica justiça em todos os níveis. Afinal, nenhuma reforma prometida pelos governos chegou a ser realizada e isso aumentou a frustração popular diante da corrupção e da impunidade. Para complicar as coisas, ao trazer a Copa para o Brasil, Lula conseguiu a proeza de dar o pão aos pobres e o circo aos ricos, cabendo à classe média pagar as contas.
Quem tiver olhos de ver, que veja. Estamos vivendo novos tempos, com novos meios de comunicação e novas formas de organização e manifestação popular. Políticos e seus partidos já não representam o povo e por isso estão em xeque no tabuleiro da história. A incompetência e perplexidade das autoridades diante dos fatos deixam isso bem claro. O povo brasileiro evoluiu nos últimos tempos, mas a classe política continua a mesma de sempre e poderá pagar um preço alto por isso.
Militantes de esquerda suspeitam da direita, que estaria preparando um golpe para voltar ao poder. No entanto, os “cumpanheiros” se esquecem que conservadores como Collor, Sarney, Calheiros e Maluf são aliados estratégicos do governo petista. Além do mais, nunca antes na história deste país os banqueiros, pastores e latifundiários lucraram tanto, pagando quase nada de imposto de renda.
Já os políticos de direita desconfiam da esquerda, que poderia tumultuar o processo político e com isso criar condições para que Lula volte ao poder como salvador da pátria, seguindo o exemplo de Hugo Chávez. Se fosse verdade, o homem que presidiu o Brasil por dois mandatos e elegeu um “poste” para a sua vaga não estaria tão sumido da mídia.
A união faz a força
A imprensa, por sua vez, convoca historiadores, sociólogos e cientistas políticos para analisarem o caso e apontar um desfecho feliz. Se num primeiro momento a cobertura parecia favorável às manifestações, a partir de certo ponto as imagens de vandalismo passaram a ser cansativamente exibidas na TV e estampadas nas primeiras páginas dos jornais – talvez numa tentativa de desacreditar o caráter pacifista do movimento.
Muita gente chegou a dizer que o Brasil acordou para a realidade e que o povo perdeu de vez a confiança nos políticos. Entretanto, o fato é que há muito tempo os brasileiros vinham se queixando separadamente da falta de respeito da classe política, quase toda ela envolvida em escândalos e maracutaias. O povo apenas resolveu gritar em coro, acreditando que a união faz a força.
No meio de tantos questionamentos, uma coisa ficou clara nos últimos dias: além de corrupta, a classe política brasileira é profundamente alienada. Cercados de mordomias custeadas pelo dinheiro público, aqueles que se dizem nossos representes habitam um universo paralelo, distantes da dura realidade vivenciada diariamente por seus eleitores. Pegos de surpresa pelas manifestações, eles deixam de lado as diferenças partidárias para ganhar tempo em defesa da própria classe.
Sem filtro ideológico
Assim como a imprensa, governistas e opositores demoraram a perceber que, graças aos recursos de comunicação oferecidos pela internet, as manifestações incorporam uma nova maneira de pensar e agir politicamente. O mesmo havia ocorrido em países árabes e europeus, nos quais o povo passou a se mobilizar sem a necessidade de lideranças tradicionais ou de agremiações políticas formalmente estabelecidas.
Aliás, foi essa mesma ignorância diante dos novos meios de comunicação que ajudou a fomentar a onda de falências de empresas jornalísticas em vários países, inclusive no Brasil. Hoje, a informação se processa de forma direta, dispensando o intermediário que muitas vezes funciona como filtro ideológico. Disso resultou a ideia de democracia horizontal, que remonta à Grécia antiga.
Mais que exigir os direitos do cidadão em setores prioritários como saúde, educação, segurança e mobilidade urbana, o grito das ruas reivindica justiça em todos os níveis. Afinal, nenhuma reforma prometida pelos governos chegou a ser realizada e isso aumentou a frustração popular diante da corrupção e da impunidade. Para complicar as coisas, ao trazer a Copa para o Brasil, Lula conseguiu a proeza de dar o pão aos pobres e o circo aos ricos, cabendo à classe média pagar as contas.
Quem tiver olhos de ver, que veja. Estamos vivendo novos tempos, com novos meios de comunicação e novas formas de organização e manifestação popular. Políticos e seus partidos já não representam o povo e por isso estão em xeque no tabuleiro da história. A incompetência e perplexidade das autoridades diante dos fatos deixam isso bem claro. O povo brasileiro evoluiu nos últimos tempos, mas a classe política continua a mesma de sempre e poderá pagar um preço alto por isso.
Jorge Fernando dos Santos Jornalista, escritor e compositor, tem 40 livros publicados, entre eles as novelas Palmeira Seca, Sumidouro das Almas e 'Primavera dos Mortos', todos pela Atual Editora
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