Os catadores de lixo levantam a bandeira da ética da Terra
O ar cinzento da cidade veda-nos as cores de muita maravilha escondida. Nada tão pouco atraente como o lixo! Só nos retém a atenção, porque nos incomoda, quando acumulado e não recolhido. No entanto, lá onde se recolhe, se tria, se recicla o lixo, está acontecendo algo de muita vida e beleza. Pela via do contraste, aparece mais ainda a surpresa esperançosa. Viver do lixo simboliza cruelmente o empobrecimento crescente dos segmentos populares no mundo de economia globalizada.
A mesma globalização, que permite alguém do computador visitar as lojas ricas de Miami e fazer compras, obriga outros a sobreviverem vasculhando os lixos de grandes cidades. Aí se está construindo a história de catadores de papel, de lixo. Por meio de organização social, lentamente esses homens e mulheres, por todos os lados marginalizados, iniciam a apropriação do processo de trabalho que vinham desenvolvendo, há mais de meio século, de separação e comercialização de materiais recicláveis.
No meio de caminhada lenta e difícil, defrontaram logo de início com os atravessadores. Estes realizavam na prática o que o nome significa. Atravessavam o trajeto dos pobres, roubando-lhes a miséria coletada, levando-a para seus depósitos e daí revendendo-a às indústrias de reciclagem. No desvio, boa parte da renda dos catadores ficava na mão dos intermediários. Agora eles se assenhoraram do processo de coleta, de separação, de prensagem, de estocagem, de venda, etc. Rompeu-se o elo catador/depósito, libertando o catador dessa cadeia.
A consciência política dos catadores de papel se firma e se amplia. Desenvolvem na população a percepção da importância da coleta seletiva e da reciclagem em perspectiva ambiental. Fazem ver que seu trabalho participa da nova onda ecológica, evitando os efeitos negativos do lixo sobre o ambiente e recuperando-o de maneira racional.
Admiramos-lhes o desenvolvimento da consciência e organização a ponto de já terem realizado em Brasília, nos dias 4, 5 e 6 de junho de 2001, o I Congresso Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Contaram com a presença de 1.700 participantes: catadores, recicladores, técnicos, agentes sociais e de pastoral. Várias instituições, como o Ministério do Meio Ambiente, CNBB, CESE, CERIS e Cáritas Brasileira apoiaram a iniciativa. Elegeram a “Comissão do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis”, formada por 25 lideranças de catadores de várias regiões do país. Como em todo congresso, puderam discutir a complexa problemática que os envolve, desde a ecológica até a social e política. Tiveram a oportunidade de lançar na vitrine nacional o que já se está fazendo em muitos lugares. Pessoas que viviam nos porões mais escuros e desprezados do sistema agora ascendem à qualidade de novos protagonistas do que há de mais atual na sociedade: criar nova mentalidade ecológica não só na defesa do meio ambiente de contaminações como também na maneira diferente de relacionar-se com todo o cosmos.
Se o ser humano é o único animal produtor de lixo, toca-lhe, portanto, saber lidar com ele de modo a não infeccionar a casa Terra. É a ética por excelência. Soa pleonasticamente. Numa das versões etimológicas da palavra “Etica” está a palavra “êthos” no sentido de casa. A ética é a casa espiritual do ser humano. A Terra é a casa física do ser humano. Portanto, Terra e ethos se confundem num mesmo sentido.
Os catadores de lixo levantam a bandeira da ética da Terra. O que a ganância dos industriais nunca viu, a pobreza do catador de lixo descobriu. A vida humana está ameaçada pela destruição de sua casa. E ela se contamina em todas as fontes vitais: ar, água e solo.
Que o grito dos catadores de lixo do alto do Planalto do Congresso acorde os principais produtores de lixo para uma racionalidade que nos defenda da descida louca pelas voragens destruidoras do Planeta Terra.
A mesma globalização, que permite alguém do computador visitar as lojas ricas de Miami e fazer compras, obriga outros a sobreviverem vasculhando os lixos de grandes cidades. Aí se está construindo a história de catadores de papel, de lixo. Por meio de organização social, lentamente esses homens e mulheres, por todos os lados marginalizados, iniciam a apropriação do processo de trabalho que vinham desenvolvendo, há mais de meio século, de separação e comercialização de materiais recicláveis.
No meio de caminhada lenta e difícil, defrontaram logo de início com os atravessadores. Estes realizavam na prática o que o nome significa. Atravessavam o trajeto dos pobres, roubando-lhes a miséria coletada, levando-a para seus depósitos e daí revendendo-a às indústrias de reciclagem. No desvio, boa parte da renda dos catadores ficava na mão dos intermediários. Agora eles se assenhoraram do processo de coleta, de separação, de prensagem, de estocagem, de venda, etc. Rompeu-se o elo catador/depósito, libertando o catador dessa cadeia.
A consciência política dos catadores de papel se firma e se amplia. Desenvolvem na população a percepção da importância da coleta seletiva e da reciclagem em perspectiva ambiental. Fazem ver que seu trabalho participa da nova onda ecológica, evitando os efeitos negativos do lixo sobre o ambiente e recuperando-o de maneira racional.
Admiramos-lhes o desenvolvimento da consciência e organização a ponto de já terem realizado em Brasília, nos dias 4, 5 e 6 de junho de 2001, o I Congresso Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Contaram com a presença de 1.700 participantes: catadores, recicladores, técnicos, agentes sociais e de pastoral. Várias instituições, como o Ministério do Meio Ambiente, CNBB, CESE, CERIS e Cáritas Brasileira apoiaram a iniciativa. Elegeram a “Comissão do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis”, formada por 25 lideranças de catadores de várias regiões do país. Como em todo congresso, puderam discutir a complexa problemática que os envolve, desde a ecológica até a social e política. Tiveram a oportunidade de lançar na vitrine nacional o que já se está fazendo em muitos lugares. Pessoas que viviam nos porões mais escuros e desprezados do sistema agora ascendem à qualidade de novos protagonistas do que há de mais atual na sociedade: criar nova mentalidade ecológica não só na defesa do meio ambiente de contaminações como também na maneira diferente de relacionar-se com todo o cosmos.
Se o ser humano é o único animal produtor de lixo, toca-lhe, portanto, saber lidar com ele de modo a não infeccionar a casa Terra. É a ética por excelência. Soa pleonasticamente. Numa das versões etimológicas da palavra “Etica” está a palavra “êthos” no sentido de casa. A ética é a casa espiritual do ser humano. A Terra é a casa física do ser humano. Portanto, Terra e ethos se confundem num mesmo sentido.
Os catadores de lixo levantam a bandeira da ética da Terra. O que a ganância dos industriais nunca viu, a pobreza do catador de lixo descobriu. A vida humana está ameaçada pela destruição de sua casa. E ela se contamina em todas as fontes vitais: ar, água e solo.
Que o grito dos catadores de lixo do alto do Planalto do Congresso acorde os principais produtores de lixo para uma racionalidade que nos defenda da descida louca pelas voragens destruidoras do Planeta Terra.
João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação.
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