Para nos protegermos dos perigos externos, nos envenenamos dentro de nossas próprias casas.
'Somos prisioneiros de nossas cidades sem direito a alforria'.
Por Ricardo Soares*
Estamos presos pelas nossas próprias cidades. Cercados por seus congestionamentos e horários.Por convenções e salários. Escolas e empresas também são prisões das quais nos imaginamos libertos. Mas, olha aí, os cadeados estão todos por perto. Nos trancam em precisões que não precisamos, nos trancam a contas, cheques, saldos e cartões. Nos trancam atrás de tantos portões que sequer enxergamos mais rotas de fuga.
Assim, aprisionados por nossas próprias urbes sequer evacuamos essa lógica entranhada que nos devora por dentro. Somos devorados por nossas próprias cidades e tentamos achar nelas coerência e beleza onde só existem varandas debruçadas sobre o óbvio. Não enfiamos mais a mão na graça, somos os arautos da comida pronta, estetas de uma sanha imobiliária enganosa onde se erguem imensos prédios com apartamentos enormes e ares futuristas que se despejam sobre outros abismos de cimento. Estar no prédio mais alto é estar acima inclusive das vidas que se amontoam céus abaixo. Quanto mais alta a prisão vertical menor a possibilidade de se encontrar com o olhar do outro na horizontal.
Somos prisioneiros de nossas cidades sem direito a alforria. Uma horda de zumbis claudicantes que trabalham a semana fora para vegetar sábado e domingo com a família em uma praça de alimentação de shopping com seus hediondos odores requentados. Temos grilhões em nossas pernas, bolas de ferro em nossos pés e estamos fincados em nossas cidades. Pior é que como somos áridos nem criamos raízes embora estejamos , todos os dias, perpetuando esse trágico "modus operandi". Eu não vicejo, vocês não brotam, somos melancólicas plantações transgênicas a assistir televisão, dedilhar tablets e smarts e perpetuar a alienação. Nossos cérebros nada tem de coração. Somos uma imensa fileira de emoções fast-food. Nossas crianças devoram iogurtes calóricos e pedem presentes 24 hs e transformamos nosso carinho para com elas numa espécie de loja de conveniência amorosa. Isso quando falamos das crianças ricas. E as pobres e nanicas? Querem o que as outras querem, viram cobradores vorazes de um destino de consumo que lhes prometeram mas não entregaram. São o pavio mas querem o fio. E juntas, ricas e pobres, todas essas infâncias são martirizadas e confinadas. Elas, as crianças, também prisioneiras.
Sinto-me um prisioneiro. Sinto as algemas nas minhas mãos e pés, por mais que voe para fora das grandes cidades. Na vigília, me vejo eternamente confinado às marginais paulistanas, à linha amarela carioca, ao anel viário de Belo Horizonte, onde a cada dia, mês e semana se encontram nossos sinas enfumaçadas. Temos medo de perecer como as plantas vendidas em supermercados mas, talvez, a gente nem se dê conta disso. Vegetamos na ilusão de que deixamos sementes. É bom lembrar que qualquer semente que reproduza esse padrão está contaminada. Assim, no meio disso, criamos guetos. Ecológicos, sustentáveis, alternativos. E vivemos a ilusão de sermos diferentes quando na verdade estamos apenas nos colocando nas prisões dos pseudo-diferenciados. Afinal esses grupos que se creem distintos terão a força pra mudar os outros majoritários? Realisticamente não... muito embora possam influenciá-los em fragmentos . Ou seja: nas urbes ou mesmo fora delas somos aglomerados de pequenas, médias e grandes prisões. Colmeias de alienações. Remontando aos tempos medievais tanto criamos fortificações para nos protegermos dos perigos externos que acabamos por nos envenenar dentro de nossas próprias casas. Ou será que ao conseguir enxergar atrás de tantos espigões algo que se assemelhe a uma linha do horizonte você se considere de fato um homem ou uma mulher livre diante de uma alvissareira pradaria?
Estamos presos pelas nossas próprias cidades. Cercados por seus congestionamentos e horários.Por convenções e salários. Escolas e empresas também são prisões das quais nos imaginamos libertos. Mas, olha aí, os cadeados estão todos por perto. Nos trancam em precisões que não precisamos, nos trancam a contas, cheques, saldos e cartões. Nos trancam atrás de tantos portões que sequer enxergamos mais rotas de fuga.
Assim, aprisionados por nossas próprias urbes sequer evacuamos essa lógica entranhada que nos devora por dentro. Somos devorados por nossas próprias cidades e tentamos achar nelas coerência e beleza onde só existem varandas debruçadas sobre o óbvio. Não enfiamos mais a mão na graça, somos os arautos da comida pronta, estetas de uma sanha imobiliária enganosa onde se erguem imensos prédios com apartamentos enormes e ares futuristas que se despejam sobre outros abismos de cimento. Estar no prédio mais alto é estar acima inclusive das vidas que se amontoam céus abaixo. Quanto mais alta a prisão vertical menor a possibilidade de se encontrar com o olhar do outro na horizontal.
Somos prisioneiros de nossas cidades sem direito a alforria. Uma horda de zumbis claudicantes que trabalham a semana fora para vegetar sábado e domingo com a família em uma praça de alimentação de shopping com seus hediondos odores requentados. Temos grilhões em nossas pernas, bolas de ferro em nossos pés e estamos fincados em nossas cidades. Pior é que como somos áridos nem criamos raízes embora estejamos , todos os dias, perpetuando esse trágico "modus operandi". Eu não vicejo, vocês não brotam, somos melancólicas plantações transgênicas a assistir televisão, dedilhar tablets e smarts e perpetuar a alienação. Nossos cérebros nada tem de coração. Somos uma imensa fileira de emoções fast-food. Nossas crianças devoram iogurtes calóricos e pedem presentes 24 hs e transformamos nosso carinho para com elas numa espécie de loja de conveniência amorosa. Isso quando falamos das crianças ricas. E as pobres e nanicas? Querem o que as outras querem, viram cobradores vorazes de um destino de consumo que lhes prometeram mas não entregaram. São o pavio mas querem o fio. E juntas, ricas e pobres, todas essas infâncias são martirizadas e confinadas. Elas, as crianças, também prisioneiras.
Sinto-me um prisioneiro. Sinto as algemas nas minhas mãos e pés, por mais que voe para fora das grandes cidades. Na vigília, me vejo eternamente confinado às marginais paulistanas, à linha amarela carioca, ao anel viário de Belo Horizonte, onde a cada dia, mês e semana se encontram nossos sinas enfumaçadas. Temos medo de perecer como as plantas vendidas em supermercados mas, talvez, a gente nem se dê conta disso. Vegetamos na ilusão de que deixamos sementes. É bom lembrar que qualquer semente que reproduza esse padrão está contaminada. Assim, no meio disso, criamos guetos. Ecológicos, sustentáveis, alternativos. E vivemos a ilusão de sermos diferentes quando na verdade estamos apenas nos colocando nas prisões dos pseudo-diferenciados. Afinal esses grupos que se creem distintos terão a força pra mudar os outros majoritários? Realisticamente não... muito embora possam influenciá-los em fragmentos . Ou seja: nas urbes ou mesmo fora delas somos aglomerados de pequenas, médias e grandes prisões. Colmeias de alienações. Remontando aos tempos medievais tanto criamos fortificações para nos protegermos dos perigos externos que acabamos por nos envenenar dentro de nossas próprias casas. Ou será que ao conseguir enxergar atrás de tantos espigões algo que se assemelhe a uma linha do horizonte você se considere de fato um homem ou uma mulher livre diante de uma alvissareira pradaria?
Redação Dom Total
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) . Escreve todos os dias também o Diario do Anonimato do Mundo em www.revistapessoa.com.
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